Política não se discute! Será? postado em 15/06/20


Política não se discute! Será?

É comum escutarmos que política, religião e futebol não se discute. No então, será mesmo que não devemos colocar na mesa o que já está posto?

Embora seja pertinente discutirmos a inegável relação entre Estado e Religiões, e como se da a política dentro dessas instituições, assim como o futebol, historicamente inserido no Brasil como política de identidade nacional, mas deixaremos esses assuntos para próximos textos. Nosso foco hoje é questionar se não devemos mesmo discutir política.

Acredito que hoje, não há uma só família brasileira que não elabore complexas estratégias para manter a "paz" nas reuniões de fim de semana, aniversários, festas de fim de ano, não é mesmo?

A questão é que a política tomou conta do debate, talvez quem sabe, as pessoas perceberam que na verdade a política faz parte de nossas vidas. Tudo que se pensa ou se faz que interfere nas relações entre as pessoas, direta ou indiretamente, passa invariavelmente pela política. Seja nas ‘regras’, dentro de casa, na escola, no trabalho, ou até mesmo no meio ambiente que ao modifica-lo/destruí-lo inevitavelmente está interferindo no direito de alguém, de agora ou do futuro, de usufruir dessa casa que pertence a todos, inclusive animais e plantas.

Então sim, discutir política é dever de todos nós! A política é uma construção do ser humano para mediar os conflitos de interesses em suas relações, colocar regras de convivência e decidir em grupo o que fazer frente as questões da vida, afinal as pessoas são diferentes, com interesses diferentes e mesmo que fossem todas iguais, ainda assim existiria conflito visto que todas iriam querer a mesma coisa, tornando necessário dividir. Não há como definir melhor a política, senão, frente as divergências da vida, como um “espaço” onde é possível divergir e conciliar.

A ideia de que não se pode discutir algo, vem de uma cultura de opressão, uma política de não se discutir política. E cabe a todos refletir e respondermos a quem interessa esse silêncio.

Antes quero que pense na cultura como o conjunto de todas as regras e sabedorias, criadas e adquiridas por todos nós, antepassados e contemporâneos, a fim de reproduzirmos de forma maios ou menos padronizada nossos descendentes.

Quanto à “política de silêncio” de certa forma ela passa por uma auto repressão. Repressão que está na tia que surta quando o marido de direita começa a falar com o cunhado de esquerda, ou no pacto prévio de assuntos permitidos para a ceia de natal e tantos outros exemplos que vivenciamos diariamente, a questão é que, limitarmos nosso rol de assuntos a não discutir política, é frear a reprodução cultural na sociedade, é exterminar a única forma de reprodução social, ou seja, é excluir os lações que justificam as relações familiares.

Está aí meus amigos, um dos principais pontos pelos quais nossas famílias estão em frangalhos.

Alguns dirão que antes, quando não se discutia política as famílias conviviam bem, no entanto, à esses faço um convite para refletir sobre o que é estar bem.

Não pretendo aprofundar no assunto, pois já me alonguei bastante, e ainda é fruto dos meus estudos, mas já quero deixar o gancho e fazer aqui uma relação com o atual momento, “de Pandemia”, para exemplificar. Para quem acompanha de perto o pessoal do direito, está ciente que os divórcios explodiram nesse período, é possível que um dos motivos, é pelo fato de muitas pessoas terem deixado para se conhecerem nesse momento, após anos de casado as pessoas tiveram tempo para olhar para quem estava do lado e refletir se faz algum sentido estar ali.

Retornando para a questão das famílias, análogo a pandemia, as redes sociais nos possibilitaram externar nossas ideias, trouxe um conceito fundamental da ética para nossas vidas, a transparência, o que por um lado é muito bom, pois nos permite selecionar as pessoas que nos afinizamos, mas por outro lado nos decepcionamos com muitos aos quais não esperávamos tais posições.

Contudo, concluo que, a política veio à tona porque é impossível silenciarmos por tanto tempo nossas relações, nossos problemas. Essa cultura de silêncio, imposta à gerações, para não questionarmos e refletirmos a sociedade, fez com que cada um de nós desenvolvesse e criasse soluções para o mundo de formas tão distantes uns dos outros que convergir agora tornou algo extremamente doloroso, e nos desse uma lição, dentre outras, muito importante:

Discuta política, convirjam, encontre os pontos de concordância, modifiquem-se e tragam quem você estima para próximo de você. Afinal, a verdadeira família se constitui de afinidade ideológica/cultural e não apenas sanguínea, o desejável é que ambas coexistão.


Gabriel F. P. Souza
Autor: Gabriel F. P. Souza

Licenciado em Ciências Sociais, graduado em Ciência da Computação, e um apaixonado por assuntos sobre a existência humana, suas organizações políticas, suas relações de produção e seus comportamentos em grupo.

Meu objetivo é observar, interpretar e propor análises sob a ótica da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, usando os meios tecnológicos como princípio de interação social contemporânea.

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