Definir fascismo não é tarefa fácil. E certamente não estarei aqui estabelecendo definitivamente o que é fascismo, até porque o tema em questão ainda não possui consenso acadêmico...
O fascismo nasce da descrença popular na política frente às crises econômicas do sistema!
Após longo processo de falhas na leitura da conjuntura sociopolítica, corrupções e incompetências no trato com a coisa pública pelas classes políticas, surge no seio da população em desalento o anseio por um salvador da pátria. Eis então que um líder maior, carismático, mitológico, munido de pesada máquina propagandista, disposto a fazer uma limpeza na sociedade e colocar a casa em ordem de acordo com um passado glorioso, com discursos moralizantes em nome de um certo povo, povo que se torna com o tempo o seu povo. Os que enfrentem esse líder tornam-se automaticamente traidores da pátria, justificando assim perseguições. Dessa forma a vida se transforma em um ininterrupto caos.
Historicamente o termo fascismo, oriundo de fascio, "feixe em italiano", é uma apropriação feita por Mussolini do termo fasce, "feixe em latim", que simbolicamente também era um machado com o cabo revestido por varas de madeira usado pelos guarda-costas dos magistrados da Roma Antiga, esse instrumento representava autoridade e união, usado para cortar cabeças esse feixe de varas era praticamente impossível de se quebrar comparado a um machado com um cabo normal.
Em 1914 funda-se o Fasci d’Azione Rivoluzionaria, que daria origem mais tarde, em 1922, ao Partido Nacional Fascista. As principais características do regime imposto por Mussolini foram o nacionalismo, o imperialismo, o antiliberalismo e antidemocrático. Foi um governo totalitário que privilegiou conceitos de nação e raça sobre os valores individuais.
Contudo, resta uma pergunta: O Fascismo acabou com o fim da Segunda Guerra Mundial?
A resposta para isso é NÃO. Embora alguns autores conservadores reconheçam apenas o fascismo histórico, ocorrido na Itália, a maioria dos estudiosos do assunto consideram que após 1945 o fascismo tornasse um movimento “camaleônico”, ou seja, ele foi se espalhando por várias partes do globo e adaptando-se aos anseios conservadores de cada época e lugar, mantendo conjuntos, ou melhor, feixes de suas características originais que o definem.
Logo após o fim do regime em 1945 na Itália ele se infiltra no PSDI “Partido Socialista Democrático Italiano”, posteriormente no NDPP na Alemanha, e foi usado como base para regimes como o da Áustria, de Franco na Espanha, de Salazar em Portugal, e até mesmo no Brasil com os Integralistas, os famosos galinhas verdes.
Dessa forma o fascismo deve ser considerado em seu desenvolvimento histórico, com cautela, principalmente por não ser algo consolidado, com uma formula pronta, e por integrar-se aos anseios do momento.
E como definir o que é fascismo?
O Culto da Tradição, com forte apelo nostálgico a um passado glorioso que possivelmente nem tenha existido, não fica difícil perceber o porquê desse sistema ser antissemita, xenofóbico, racista. Estrangeiros tornam-se alvos fáceis, acusados de roubarem postos de trabalho e contaminarem a cultura local.
O Irracionalismo, o fascista desconfia do novo e do cientificismo. O sistema é visceral, não trabalha com conceitos e sim com sentimentos e ações, opera com a capitalização do ódio, organiza grupos e os coloca em constante movimento na luta por algo que não necessariamente fica claro o que é, o que importa de fato é a sensação de estar fazendo algo e estar vencendo, é um “pragmatismo radical”. "Não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a ação!" MUSSOLINI. A aversão à universitários, pensadores e artistas torna-se fundamental. “Quando ouço falar em cultura, saco meu revólver” GOEBBELS.
O Ressentimento é a base, ou seja, o terreno propício para se implantar, um cenário em que o psicológico popular se encontra descrente e ressentido por ter suas expectativas constantemente frustradas devido à condições econômicas da sociedade que vai além das escolhas individuais. Por isso o fascismo floresce na classe média, “baixa burguesia”, desvalorizadas por crises econômicas ou humilhação política, ou assustada por preção de grupos sociais subalternos.
O Mito da Pátria, “Criamos o nosso mito. O mito é uma fé, é uma paixão. Não é preciso que seja uma realidade [...] O nosso mito é a nação, o nosso mito é a grandeza da nação” MUSSOLINI. A retórica desse movimento sempre apela para o nacionalismo extremo, enaltecendo o privilégio mais comum a todos, ter nascido no mesmo país. Mais uma vez justificando a aversão a estrangeiros. Segundo Umberto Eco “os únicos que podem prover uma identidade a uma nação são seus inimigos, desta forma, na raiz da psicologia do Fascismo Eterno há uma obsessão com uma conspiração, possivelmente internacional”. Aqui fica claro a necessidade de constituir unidade para enfrentar o inimigo, que não é apenas um inimigo externo, mas também possui os inimigos internos “infiltrados”.
A Guerra é Permanente, não existe a paz, sempre haverá o mal à espreita precisando ser combatidos. É preciso estar sempre preparado para combater o inimigo, por isso é necessário incentivar no “cidadão de bem” o espirito de herói, com culto a morte heroica, o herói fascista está sempre pronto para morrer, no entanto quase sempre essa disposição causa a morte do outro.
Obsessão Sexual, manter-se em guerra constante é algo muito difícil, por isso o fascista transfere sua obsessão por poder para a sexualidade, sendo assim a origem de seu machismo, desdenhando as mulheres e condenando hábitos sexuais não conformistas. Sendo o sexo um jogo difícil, o herói do fascismo tende a brincar com armas, como um exercício de substituição fálica.
A Vontade do Povo, o fascismo eterno valoriza uma vontade geral do povo, não estando preocupado com as vontades individuais, ele "identifica" o que seria a voz do povo e um líder que seria o interprete dessa vontade.
O Líder Messiânico, seria alguém carismático o suficiente para se passar como alguém que compreendesse e representasse a voz do povo, um populista, alguem "acessível", de fora do establishment “ordem política vigente”, um verdadeiro outsider “forasteiro”.
Contudo, vale ressaltar que a propaganda no regime fascista é fundamental, ela utiliza dos meios de comunicação de forma eficaz, capaz de acessar os desalentados e suas dores, comumente com propaganda com linguagem de simples compreensão e que vende soluções fáceis cheias de hipérboles e falácias. No mais o fascismo é um camaleão que não possuir doutrina, ‘projeto de governo’, o fascismo apropria-se do que está em alta, soluções que estão popularmente mais aceitas. Por não possuir um plano obviamente dentro desse ‘modus operandi’ surgem várias inconsistências, e antagonismos, ele é e não é tudo o que já está aí, a hipocrisia se faz presente e a única ideologia possível de ser apresentada é a da anti-ideologia, no entanto, essa ideologia omite a real ideologia que é entrar e manter-se no poder, consumando um real “projeto criminoso de poder”.
Foi usado como fonte principal de pesquisa o livro "Fascismo Eterno" do autor Umberto Eco entre outros autores.
Licenciado em Ciências Sociais, graduado em Ciência da Computação, e um apaixonado por assuntos sobre a existência humana, suas organizações políticas, suas relações de produção e seus comportamentos em grupo.
Meu objetivo é observar, interpretar e propor análises sob a ótica da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, usando os meios tecnológicos como princípio de interação social contemporânea.