O que a vida espera de nós? postado em 17/03/21


O que a vida espera de nós?

Pois é, que pergunta capciosa não é mesmo? Na verdade, a frase está toda errada!

A vida não espera nada de nós, quem espera algo de nós somos nós mesmo.

Aceitando ou não, mesmo que a humanidade consiga acabar com a vida na superfície do planeta, em algum momento seja em milhões ou bilhões de anos a terra vai estar verdinha e cheia de vida de novo, porque a vida simplesmente acontece, a vida é isso, é movimento, é começo meio e fim, a vida é ação. É aqui que a frase começa a ser desmontada, a vida é ação, e é por isso que digo, precisamos “esperar” menos e “agir” mais.

Quanto ao verbo sugiro sua troca para “esperançar” que tem mais a ver com a ideia de movimento da vida, precisamos nos projetar para onde queremos chegar, e quando falamos em esperançar inevitavelmente falamos em olhar para frente, para o futuro, olhar para finitude de nossas existências, e é sobre isso que o texto pretende falar, o “envelhecer”.

Quando jovens não nos preocupamos muito com a velhice, mas deveríamos, pois se tudo der certo é o que nos aguarda.

Com o tempo nossa força de trabalho e a capacidade de aprendizagem vai sendo sugada de nós, nossas responsabilidades vão se reduzindo, o auge de nossas existências vão se tornando calmaria, as limitações laborais vão surgindo, e cada vez mais nosso significado de existir se reduz/amplia para às atividades de reprodução social, de transmissão daquele conhecimento que só pode ser adquirido com vida, histórias e interpretações da vida que só podem ser feitas por quem já viveu. Portanto lucidez para a velhice é condição sine qua non para uma vida não solitária, é essencial que nos programemos para o envelhecer bem, algo difícil de se conseguir, e bem raro de ser visto, algo que talvez seja quase impossível de remediar na velhice para quem não se preveniu na juventude.

No mais, é sempre muito bom encontrar um idoso que a prosa é valorosa. E é para isso que eu luto, para me tornar sim um velho, mas obsoleto nunca, para não viver o luto em vida da minha significância, é diariamente criar musculatura intelectual diversificando conhecimentos, e principalmente fazer o exercício contrário, “socrático”, de humildade para reconhecer a própria ignorância, de saber que nada sabemos, porque talvez, e só talvez, assim possamos chegar a um estágio de sabedoria em que a terceira idade não se apresente como um infeliz e solitário fechamento de uma vida sem propósito.

Vivamos a vida de forma religiosa. Mas no sentido etimológico da palavra “religião”, que vem de RELIGIO, “respeito ao sagrado”, que hoje para mim, significa respeito as conexões humanas “meu espaço sagrado”, algo que a palavra também traz é prefixo “RE”, muito bem vindo aqui, que reforça a ideia de LIGARE, RELIGARE, religar, reatar, refazer as conexões e considerando o quanto a vida muda fazer novas conexões também. Então voltemos ao sentido de ação da vida, que nós nos esforcemos sempre para nos mantermos nessa dinâmica inerente a humanidade, de uma realidade que está em constante mudança, que o que nos parece certo hoje possa vir a não ser outro dia, de compreender que se há diversidade entre pessoas de um mesmo tempo a nossa inercia pode causar a ruptura total entre gerações distintas.

(A vida é de fato muito curta para ser pequena. O que é mesmo cidadania plena? É uma vida que coletivamente não apequene a própria vida. Ou seja, é necessário que você e eu construamos, juntos, o inédito viável.

Segundo o grande pensador da educação, Paulo Freire, é preciso ter esperança para chegar ao inédito viável e ao sonho. Cuidado! Há pessoas que têm esperança do verbo “esperar”. Esse grande educador e filósofo falava da esperança do verbo “esperançar”. Esperar é: “Ah,  eu espero que dê certo, espero que aconteça, espero que resolva”. Esperançar é ir atrás, é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa não se conformar.

Quando eu coloco água em um copo, ela se conforma ao recipiente e está aprisionada nele. É preciso que você e eu sejamos capazes de transbordar. A esperança permite que você transborde, isto é, vá além da borda.

A ambição, diferentemente da ganância, faz com que você e eu não nos conformemos.

(...)

Trecho retirado do livro "Educação e esperança".)

Mario Sergio Cortella

Só acrescento ao que disse Cortella, que façamos a mudança em nós e não tenhamos esperança em impor nossas expectativas aos outros, nossas crenças e formas de viver a vida. Reconecte-se, e caso se nesses tempos tão duros as conexões se perderam para sempre, trate de fazer novas conexões.

Uma boa vida a todos...

 


Gabriel F. P. Souza
Autor: Gabriel F. P. Souza

Licenciado em Ciências Sociais, graduado em Ciência da Computação, e um apaixonado por assuntos sobre a existência humana, suas organizações políticas, suas relações de produção e seus comportamentos em grupo.

Meu objetivo é observar, interpretar e propor análises sob a ótica da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, usando os meios tecnológicos como princípio de interação social contemporânea.

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