Como nossa mente é incrível!
Mesmo após dormir tarde na virada de ano e sem ter compromisso algum com horários para o dia primeiro. Assim como uma máquina que se programou para não perder tempo quando o ano virasse aqui estou eu, acordado sem despertador, já instalado as 5:45 da manhã, sem programação prévia e com a mente trabalhando, mesmo antes de ter acordado, a todo vapor.
É muito curioso que eu tenha sonhado essa noite com as pessoas que foram os motivos pelos quais me dediquei os últimos quatro anos no que se tornou um esforço de compreensão da realidade. É como se minha mente estivesse renovando seus votos para a nova etapa desafiadora de vida que me aguarda, agora recém-licenciado em ciências sociais, e com o foco total nas razões que desencadearam tudo isso.
No sonho eu discutia com três pessoas que um dia foram-me os referenciais de ser humano, quem eu espelhava. A discussão girava em torno da quebra de paradigma moral ao qual passamos e dos escombros que restaram das muralhas que um dia elas representavam-me.
Sei que em algum momento todos nós nos distanciamos do que eramos, do que pensávamos. Infelizmente o sentimento é de perda coletiva, não foi só para mim que muitos se tornaram obsoletos e até mesmo inapropriados devido aos seus comportamentos, como para muitos eu que me tornei a decepção ao não atender mais suas expectativas como padrão ser humano.
Contudo, quero deixar claro que, mesmo reconhecendo a distância percorrida em minha caminhada do ponto de partida ao ponto mais alto de observação que agora estou, sem megalomania nenhuma de querer ser o exemplo a ser seguido, julgo estar bem mais próximo daqueles preceitos morais que buscávamos coletivamente outrora, e principalmente tendo como referência aqueles que hoje os defende de forma tão contraditória. Para ficar mais claro do que estou falando, falo sim, do cristão, do homem de bem, ou chame-o como quiser.
A questão é que por algum motivo, dentro da fanfic criada pelos fãs, dos menos aos mais espirituosos, o texto do personagem principal ‘Cristo’ foi de, dai a outra face para dai o tiro na perna ou na cabecinha, foi de, se tua mão direita é motivo de vergonha cortai e atirai para longe de ti para se teu filho foi para a esquerda e te envergonha cortai-o da convivência, foi de amai ao próximo como a ti mesmo para amai ao espelho próximo de ti, foi de convidai os pobres e estropiados para a criminalização total da pobreza. Em resumo, nessa peça ficcional reescrita pelo fã-clube do cristo, ‘o que também nunca deixou de ser uma criação humana’, em uma espécie de realidade paralela invertida, confundiram melancolia profunda por melancia na bunda.
Fato é que todos nós mudamos! Seria hipocrisia dizer que ainda tenho anseios cristãos, certamente esse modelo ficou pequeno para mim, e no mínimo cinquenta por cento da responsabilidade é por conta do péssimo exemplo dos atuais cristãos, os outros cinquenta pela compreensão que o próprio modelo é incoerente, excludente, limitante, em resumo, do tamanho da capacidade de criação dos seres humanos para um período histórico, que possui seu valor, no entanto, ultrapassado.
Para finalizar cabe aqui dizer que para mim tudo bem sermos diferentes, pensarmos diferente, podermos ter a liberdade de crença que quisermos. Porém há diferenças gritantes entre divergir e não ter mais alguém como referencial a ser seguido, do que considerar o diferente como um ser desviantes da condição humana, em teorias homogenizantes da sociedade, um óvni causador de repulsa, uma forma de pensar que inevitavelmente nos coloca em lados opostos em uma disputa moral.
Para você que leu até aqui e se ofendeu, que não está tudo bem, pelo simples fato de eu acreditar que sua crença é criação humana ou não acreditar no que você acredita tão ferozmente. Avalie a possibilidade de você estar cego pelas suas crenças, creio ser aqui o grande ponto de inflexão entre nós. As conclusões sobre quem está mais, ou menos, preparado para amar ao próximo independente das diferenças no ano que começa deixo para você...
Feliz 2022!
Licenciado em Ciências Sociais, graduado em Ciência da Computação, e um apaixonado por assuntos sobre a existência humana, suas organizações políticas, suas relações de produção e seus comportamentos em grupo.
Meu objetivo é observar, interpretar e propor análises sob a ótica da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, usando os meios tecnológicos como princípio de interação social contemporânea.